– A Infância.
Lindalvo Gondim, filho legítimo de José da Costa Gondim e de Filomena Gouveia Gondim. Nascido no dia 21 de dezembro de 1921 no Sítio São José, município de Areia, Estado da Paraíba.Pai agricultor, proprietário de um pequeno engenho de tração animal, de onde provinham todos os recursos necessários para manter a família composta de 11 filhos. Para que pudéssemos estudar, alugamos uma casa na Cidade, distante 18 quilômetros. Fomos matriculados no Grupo Escolar “Álvaro Machado”, único estabelecimento de ensino. Nesse grupo, fiz o primário no decorrer dos anos de 1934 a 1938, sob a orientação das grandes mestras: 1.º ano: professora Áurea, 2.º: professora Nanete, 3.º: professora Severina, 4.º: professora Carminha e 5.º: professora Ezilda. A essas tão competentes e abnegadas educadoras, agradeço do fundo do meu coração o “muito do saber” que tão generosamente souberam me transmitir.
Com o passar dos anos, e como medida de economia, pois pagávamos 20 mil réis de aluguel, entregamos a casa e retornamos ao sítio.
Eu e o mano Joca, que éramos os menores, passamos a ir a cavalo. O problema é que possuíamos uma só montaria para os dois, e ao mano, por ser mais velho, caberia ir ao volante, enquanto eu ia agarrado na garupa do cavalo. Não é à toa, que tenho as pernas tortas de tanto me agarrar nos quadris do cavalo. Fizemos essa jornada durante dois anos. Levantávamos às quatro horas da madrugada para ir à Cidade, assistir as aulas das sete às doze horas.
Após as aulas, fazíamos um lanche na base da tapioca, beiju, macaxeira, ou mesmo, na falta desses quitutes, entrávamos na heroica e tradicional farinha com rapadura. Depois desse suculento lanche, montávamos no cavalo para chegar em casa por volta das 14:30 horas, ocasião que íamos tratar de almoçar. Porém, antes de almoçar, colocávamos um bornal de milho para o nosso amigo e cooperador, senhor Cavalo.
Terminado o curso primário, sem qualquer outra opção, fui trabalhar em uma alfaiataria, o meu primeiro serviço pela manhã, era colocar o carvão no ferro e abanar até esquentar. Outra função que fazia com grande constrangimento, era fazer as entregas nas casas dos fregueses, pois eram todas famílias conhecidas.
Aprendi a costurar calça e paletó. Para comprovar o meu desembaraço na profissão, uma vez ganhei 20 mil réis no jogo do bicho. Muito alegre comprei um corte de brim e fiz uma calça e um paletó, o que me enchia de muita vaidade, sair vestido com um terno comprado e feito por mim. Quando entrei no Exército, perguntaram a minha profissão. Respondi ser aprendiz de alfaiate, e, então, quiseram me pegar para trabalhar na alfaiataria. Se não me esperto, estaria fazendo farda até hoje.
Na época em que trabalhava na alfaiataria, apareceu na Cidade o jovem Mário de Bela, ex-colega do primário, que estava servindo na Marinha de Guerra. Vendo-o fardado, perguntei que roupa tão bonita era aquela. Ele respondeu ser a farda da nossa Marinha. Manifestei desejo de ingressar. Diante da minha vontade, ele perguntou a minha idade (ia fazer 17 anos) e me orientou que pegasse a minha certidão de nascimento e fosse para Natal que lá eu ingressaria. Com a permissão do meu querido e saudoso Paizão, tomei o ônibus e fui para Guarabira, onde troquei de viatura, indo até Nova Cruz, pernoitando numa pousada junto à estação, que a partir das três horas da madrugada ninguém mais dormia, por causa do barulho das latas que o pessoal conduzia para colher agua do depósito da estação do trem. Pela manhã, tomei o trem com destino a Natal. Lá chegando procurei o quartel da Marinha, onde pretendia ingressar.
Infelizmente, fui fora de época, não podendo ingressar. Perdeu, assim, a nossa Armada, a oportunidade de ganhar mais um Almirante. Retornando à minha cidade, descortinando um futuro que não era nada promissor, já que não podia ir para a Capital estudar.
Falei com o meu saudoso Paizão, que eu desejava tentar a vida no Rio de Janeiro. Ele, um tanto constrangido, aprovou, já que não via qualquer futuro permanecer na Cidade.
Após receber os sábios e generosos conselhos – de que pautasse a minha vida com muito esforço, perseverança, e, principalmente com muita honestidade, que Deus, com sua infinita bondade, me proteger-me-ia – comecei a grande aventura de minha vida.
II – A Aventura.
Aos 17 anos, com o curso primário, arrumei a minha mala e numa despedida muito chorosa, tomei o ônibus que me levaria a João Pessoa. Lá chegando, procurei a agencia do LLoyd Brasileiro e comprei passagem – de 3.ª classe – no navio Poconé, com destino ao Rio de Janeiro.
Informado que o navio ainda demoraria uns dois dias, fui aconselhado ir esperá-lo em Cabedelo. Fique largado no cais do porto dois dias, comendo pão com banana.Quando o navio chegou, fui um dos primeiros à embarcar. Instalado na 3.ª classe, procurei um beliche na parte de cima, pois seria mais ventilado, ou, melhor dizendo, menos abafado. No beliche inferior, acomodou-se um cidadão, que, sabendo que eu viajava sozinho, procurou aproximação. Acontece que, mal o navio deu a largada, comecei a enjoar, e, que no desespero, não tive tempo de desviar e vomitei em cima do companheiro do beliche inferior, que com justa razão, não quis mais saber de amizade.
Após 11 dias de muito sofrimento, acomodado em beliche de 3.ª classe, com pouca higiene e muito percevejo, comida na base do cozidão de repolho, (o que aumentava em muito o meu mal-estar) cheguei finalmente ao Rio. Desembarcando no armazém 13, coloquei a mala na cabeça e rumei em direção ao centro, atraído e deslumbrado pela imponência dos Edifícios, até chegar à Praça Mauá, onde sentei num banco e fiquei pensando na vida.
Passada a noite, no dia seguinte, já com bastante fome, dirigi-me a um bar próximo e pedi uma média – café com leite e um pãozinho com manteiga. Quis repetir, mas logo pensei: “A verba está curta, e a jornada, apenas começando.” Tirei o trocado do bolso da cueca, feito pela minha saudosa Mamãe, e paguei a despesa. Retornando ao banco, lá pelas tantas, apareceu um cidadão, que me vendo sentado com aquela mala ao lado, perguntou o que eu estava fazendo e respondi que estava procurando emprego. Ele pediu meus documentos e mostrei a certidão de nascimento. Então, aconselhou-me a ir ser soldado. Não perguntei nem de que era o soldado! Falou-me para que eu pegasse o ônibus na parada defronte que me levaria à Petrópolis, onde eu poderia ingressar no Exército.
III – O Batente.
Ingressei no Exército com o curso primário, como soldado voluntário, no dia 25 de novembro de 1939, no Primeiro Batalhão de Caçadores de Petrópolis.
Desejando muito estudar, matriculei-me num curso noturno para fazer a primeira série ginasial. Após alguns meses, muito entusiasmado com os estudos, veio ordem para responder revista, o que implicaria estar no Quartel às 22 horas. Fui apelar ao Comandante para que me dispensasse da revista, pois estava estudando e dormia no Quartel. Mesmo mostrando os recibos do colégio, não consegui convencê-lo. Tive que abandonar os estudos. Só consegui estudar alguns anos depois, quando fiz curso para sargento identificador-dactiloscopista, saindo definitivamente da tropa, o que me proporcionou muitas transferências (viajando sempre de navio), pois servi 4 vezes no Rio, 4 vezes em Manaus, 5 vezes em Belém, 1 vez em Salvador, e durante 18 meses em Clevelândia, no Oiapoque, já como 1.º tenente dentista. Fiz curso ginasial, colegial e superior estudando sempre à noite. No Exército fui soldado recruta, soldado mobilizável, 2.º cabo, 1.º cabo, 3.º sargento, 2.º sargento, 1.º sargento, 2.º tenente, 1.º tenente, Capitão e Major Dentista.Para ingressar no quadro de Oficiais dentistas, não foi nada fácil. Existia uma Lei, em pleno vigor, que isentava de exame de admissão para a matrícula na Escola de Saúde do Exército os sargentos formados em Medicina, Farmácia e Odontologia. Amparado por esta Lei e demais instruções, requeri matrícula, tendo sido deferido o meu requerimento. Uma vez deferido, servindo em Belém, onde já tinha consultório, tratei de me desfazer do Gabinete para ir pro Rio cursar a Escola. Acontece que o Sr. Ministro Marechal Lott, preferia ver na Escola rapazes novos, muitas vezes de cabeça vazia, a sargentos tarimbados com muitos anos de serviço e muita vontade de vencer na vida. Depois de meu requerimento deferido, o todo poderoso Ministro Lott, baixou uma portaria, dando novo despacho, indeferido por contrariar a portaria tal…Indeferido o meu requerimento e de mais 19 colegas em idêntica situação, começado o curso e esgotados todos os recursos administrativos, entramos na justiça para fazer valer os nossos direitos. Como se tratava de curso em funcionamento, o nosso advogado entrou com medida liminar pedindo a nossa matrícula.
Decorrido um mês de curso, fomos matriculados por força da liminar. Passei quase dois meses cursando a Escola como 2.º tenente aluno, enfrentando os maiores obstáculos por toda a direção vindos da Escola, por ordem do todo-poderoso General Lott. Ele, que derrubava até presidente, conseguiu cassar a nossa liminar. Em consequência, fomos desligados do curso e retornamos à tropa como sargentos. Não nos conformando com a prepotência e a grande ilegalidade do todo-poderoso Ministro, nós como simples sargentos, tivemos coragem e topete de enfrentar o arbitrário General Lott. Recorremos ao Supremo Tribunal Federal, que após um ano, já tendo terminado o curso e os alunos incluídos no Quadro de Dentistas como 1.º tenentes, o Supremo nos deu ganho de causa, mandando nos incluir no quadro como 1.º tenentes, em idêntica situação ao que haviam feito o Curso em cuja turma deveríamos ter feito parte.
Nessa altura, o prepotente e injusto Ministro Lott, em vez de cumprir a decisão do S.T.F., mandou-nos matricular para concluir o Curso, com o objetivo único de ter oportunidade de nos massacrar. Sofremos as maiores perseguições por ordem expressa do autoritário, injusto e prepotente General Lott.
Terminado o curso, todos nomeados 1.ºs tenentes, o Lott mais uma vez não se deu por vencido. A classificação dos oficiais de saúde é de competência exclusiva do General Diretor de Saúde, mas o arrogante Lott, chamou à si a tarefa. Mandou-nos para os rincões mais longínquos e inóspitos de nossas fronteiras. Eu, por ter obtido o 5.º lugar da turma, a opção foi Clevelândia, no Oiapoque, fronteira com a Guiana Francesa. Tive sorte: Encontrei a Companhia há muitos anos sem dentista, o que me fez trabalhar muito. Como na cidade não havia dentista, consegui um contrato remunerado junto à Prefeitura, para prestar serviços à comunidade.
O que, para o prepotente, injusto e vingativo Lott, seria um severo castigo, transformei em ótima oportunidade para ganhar dinheiro honestamente e fazer o meu pé-de-meia. Trabalhei muito, inclusive para os trabalhadores da Guiana, onde podia cobrar, e cobrava muito bem, pois eles adoram ouro na boca. Era obturação, incrustação, bloco, coroa aberta, coroa fechada, enfim, ao paciente sorrir, só se via ouro. Isso muito os agradava e os envaidecia, pois para eles, além de ficar muito bonito, era sinal de status.
Após dois anos na fronteira, longe da família, retornei à Belém, indo trabalhar no Hospital Geral de Belém.
Montei o meu moderno e confortável Consultório, onde trabalhava meio expediente. Ao completar o Tempo de Serviço, pedi transferência para a Reserva Remunerada e continuei trabalhando na profissão, em tempo integral. Completado o tempo para a aposentadoria pelo INSS, aposentei-me e tratei de fechar o consultório… “Devemos trabalhar para viver, e não viver para trabalhar!”
Quando solteiro, servindo no Quartel General do Rio,
onde o expediente era das 11 às 17 horas, para aproveitar a manhã, fiz um curso de prótese dentária, que me foi muito útil no desempenho da profissão. “Certificado de Protético fornecido pelo Serviço Nacional de Fiscalização da Medicina, datado de 06 de maio de 1946”.
Em 1946, como 3.º sargento servindo em Manaus, fui transferido para o Rio. Como estava noivo, resolvi antecipar o casamento. Casamos e embarcamos em lua de mel no navio Itaimbé.
Ao chegar ao Rio, sem ter onde morar, falei com o comandante do navio pedindo permissão para passar a noite à bordo, enquanto providenciava moradia.
Como já conhecia bem o centro da cidade, fui procurar moradia junto ao Quartel General onde ia trabalhar. Nessa época, estava sendo construída a avenida Presidente Vargas. Para a abertura dessa rua, foram demolidas duas ruas. Aquelas casas em perfeito estado de habitabilidade, estavam sendo demolidas. Consegui numa delas, alugar um quarto onde fomos morar. A comida era fornecida pela vizinha, que fornecia marmita.
A Jacysita, de início, abria as marmitas e nos servíamos. Mas com o passar do tempo veio a gravidez, e ela, enjoada, nem abria mais as marmitas. Eu me servia e a sobra ia para o lixo. Ela se alimentava na base de frutas e biscoitos. A dona da casa vendo aquela situação, como era uma pessoa muito simples e atenciosa, nos ofereceu um cantinho na cozinha, onde colocávamos um fogareiro à carvão, em cima de uma caixa de sabão, que nos servia de fogão e armário. Aí então, a Jacysita passou a executar seus altos conhecimentos culinários.
Com o passar dos meses veio o filho. Aquele pequeno cômodo que servia de sala, alcova e cozinha, passou também a receber as fraldas molhadas, o que nos fazia andar abaixados. Depois de algum tempo, consegui transferência para Manaus, para onde viajamos com o filho José Carlos com oito meses de idade, o que exigia cuidados redobrados, pois a cada apito do navio, a criança se assustava e começava à chorar.
Em Manaus, fomos morar em uma vila de madeira, onde qualquer movimento do vizinho repercutia em nossa casa, pois o assoalho era único. Para sanar este problema, fiz um empréstimo junto à Caixa Econômica com o prazo de financiamento de vinte anos, construí uma casa de alvenaria, onde passamos à morar confortavelmente, aonde nasceu o Carlos José, já com o acompanhamento médico e de D. Clarisse, minha saudosa e querida sogrinha.
Quando fui transferido de Manaus para Belém, vendi a casa, e num leilão comprei a que moro atualmente, que após várias reformas, ficou muito confortável, tendo até um viveiro cheio de lindos pássaros, que cantam o tempo todo, tornando o ambiente sempre alegre e acolhedor.
Como no primeiro financiamento pela Caixa fui muito bem sucedido, passei a ser cliente cativo. Cada vez que terminava de pagar o financiamento, fazia a hipoteca na própria Caixa, pegava o dinheiro, e comprava outro imóvel, o que justifica a posse dos imóveis que possuo atualmente.
IV – Aposentadoria.
Ao passar para a reserva, eufórico com a liberdade, convidei a família a dar uma volta de carro até São Paulo, onde moravam alguns irmãos. A esposa ficou um pouco receosa, pois era uma aventura muito grande; já os filhos de 12 e 13 anos, ficaram muito alegres. O carro era um DKW, da Vemag, já bastante usado. Arrumamos a bagagem, ficando o bagageiro muito alto e pesado.
Eu possuía habilitação, mas era um grande barbeiro. O filho mais velho já dirigia, porém, não tinha idade para tirar carteira. Apesar disso era ele quem dirigia.
No primeiro dia, enquanto estávamos no asfalto, tudo bem. Mas ao entrar na Belém – Brasília, de terra batida, começaram os problemas: o carro por estar muito carregado e ser muito baixinho, andava o tempo todo batendo nas pedras, já que não alcançava a pista dos ônibus e caminhões. Lá pelas tantas furou o pneu. No meio daquela estrada deserta, viajando com a mulher e dois filhos menores, o carro sem socorro… Que situação! Até que apareceu uma barraca com placa de borracheiro – que alívio! Paramos para consertar a câmara. Outro grande problema: O processo era o mais rudimentar possível. O funcionário colocou carvão num ferro de passar roupa e danou-se a abanar. Quando o ferro esquentou, ele colocou a câmara em cima de uma pedra, colocou o pedaço para remendo e botou o ferro em cima, pisando no cabo do ferro, apoiando-se num esteio, para conseguir equilíbrio. O fato é que, graças às orações da turma aflita, o improviso deu certo.
Prosseguimos a viagem mais tranquilos. Nos pernoites ao longo da estrada, não se tirava as malas do bagageiro, pois não havia problema de ladrão. Decorria tudo mais ou menos, até que o tubo de descarga quebrou. O motor de dois tempos provocava um barulho ensurdecedor, tanto que o pessoal corria para as margens da estrada, pensando ser um avião que caia; até que conseguimos consertar o tubo.
Chegando ao Rio, o nosso destino era a Tijuca, numa rua transversal à Conde de Bonfim. Faltando uns 200 metros para o ponto final, notamos mais uma vez o pneu vazio. Nessa altura, não esquentamos e tocamos em frente, o que nos custou uma câmara e um pneu inutilizados.
Passados alguns dias no Rio, seguimos para São Paulo. Na estrada, um patrulheiro nos fez parar. Eu, mais do que depressa, assumi o volante. Verificando que estava tudo em ordem, nos liberou. Porém, outro guarda avisou que quem estava dirigindo era o garoto. Tentei explicar que o filho ainda não tinha carteira, mas dirigia muito bem. Não aceitaram a minha justificativa, mandando que encostasse o carro. Se não fosse a minha identidade de Oficial Superior do nosso Exército, creio que nosso passeio, até então, relativamente tranquilo, teria ido por água abaixo.
Em São Paulo, vendi o carrinho surrado, e comprei outro da mesma marca, zero km, o que nos proporcionou um retorno à Belém sem problemas.
Passado algum tempo, atendendo o desejo de minha Esposa, que manifestou o desejo de conhecer Portugal, a terrinha de meu saudoso sogro, fizemos uma excursão à Portugal, Espanha e França. Foi um passeio muito agradável e nos divertimos bastante.
Baseado no sucesso dessa excursão, resolvemos fazer outra, dessa vez mais prolongada, abrangendo 10 países da Europa. Acontece que na época da viagem, já com tudo pago, combinamos cancelar, pois não nos encontrávamos dispostos.
Após a minha passagem para a Reserva Remunerada, trabalhando somente no consultório, numa folga, ao ler os jornais, descobria anúncios da venda de terrenos, casas, apartamentos, etc. Tomava o carro e ia verificar. Fiz várias e boas aquisições. Como gostava muito de construção, tratava logo de reformar ou construir, o que me preenchia o tempo ocioso e me proporcionava grande alegria.
Graças as minhas virações sempre honestas, consegui juntar um pequeno patrimônio: moro numa casa muito confortável, já doei em regime de uso fruto, duas boas casas, uma para cada filho; possuo uma casa de veraneio em Mosqueiro e seis imóveis alugados, administrados pela minha esposa, que a cada dia 15, recebe os alugueis que vem reforçar sua aposentadoria como costureira.
Hoje, graças ao bom Deus, desfruto minha velhice tranquila, preenchendo o tempo tratando dos meus pássaros num viveiro que construí numa área estratégica, no 1.º andar, de minha residência, onde armo minha rede nordestina e fico apreciando o saltitar constante dos bichinhos e me deleitando com o mavioso canto que eles tanto generosamente me oferecem.
Encerro esta narrativa com os versos tão oportunos do nosso grande poeta Casimiro de Abreu:
Ó que saudades que tenho,
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida,
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras,
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Esta narrativa é a Verdade Verdadeira,
de um garoto nordestino chamado Lindalvo.
Belém, 09 – 09 – 99.
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Este texto foi todo digitalizado a partir dos originais acima apresentados. As imagens são do acervo da família e algumas capturadas na internet.
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